Nessa manhã de
sol radiante percebo as primeiras flores das cerejeiras. Breve alguns pontos de
São Paulo estarão coloridos por estas florzinhas que mais parecem alvas
borboletas.
Quando criança eu
pensava que as borboletas eram flores que, no meio da noite, o menino Jesus as
soltava das suas hastes, para que voassem, e indo ao céu para brincar com Ele e
Nossa Senhora, tornavam-se estrelas. Não sei o que me levou a pensar isso.
Hoje, por muito
ter vivido, sei que era uma tola fantasia de criança. Crianças são assim, têm
uma imaginação sem tamanho, fantástica, asas coloridas, e de importância muito
particular, íntima e exclusiva da sua inocência.
Borboletas são borboletas, e flores são flores!
Minha experiência
de vida me faz cada vez mais entendido sobre as cousas da natureza, e minha
sabedoria, de criança amadurecida, me ajuda ter conclusões convincentes e
sensatas sem manchas de fantasias que me torne infantil.
A vida é uma
evolução constante. Borboletas que dormem de dia é que são estrelas em hastes
chocando suas sementes para eclodirem e serem frutos; e as que voam são jovens
treinando suas asas, no decorrer do dia, para a grande jornada de à noitinha
voarem e como flores enfeitar o céu.
Este ciclo se
repete na eternidade das espécies. Isto explica a imensa sabedoria na
imaginação comum às crianças, e muitas vezes imortal em alguns homens evoluído,
incomum, entretanto, à compreensão a quem se perde de sua origem, pois quando
esquecemos nossa origem e nosso principio, desaprendemos a voar e perdemos o
brilho, e nos tornamos novamente vermes; adultos. Quanto a isso melhor seria permanecermos
eternamente ninfa, ou pendurados por um fio, viver grudado a uma casca, presos à
segurança de ser fútil laroz.
Nessa manhã
radiante o sol se ergue, morno e vagaroso, me revelando um novo horizonte,
pontilhado de flores e borboletas, e me dá asas, asas fortes, de penugem fofa e
reluzente. Não estou só. Devo ensaiar meu primeiro vôo, confiante. Ofusca-me os
raios deste olhar de sol, o riso de criança, desta estrela sensual que me
sombreia, que, aliás, é minha esperança amiga, meu destino e meu caminho. Quero
percorrer todo este horizonte que me atrai e seduz ao vôo, sob sua vontade e
proteção, e quando ao final do meu destino me aderir ao seu corpo e descansarmos,
feito estrela, no céu, brincando, feliz sorrindo...