O mundo é grande mas hoje não tinha lugar pra mim.
Fui para a rua andar.
Procurei um amigo...
Onde estão meus amigos?
Quem são?
Árvores altas de densa folhagem circundam a praça.
Seus galhos longos e flexíveis se entrelaçam uma a outra e dançam ao ritmo do vento que brinca alternando o compasso.
Seus galhos longos e flexíveis se entrelaçam uma a outra e dançam ao ritmo do vento que brinca alternando o compasso.
O baixo canteiro é vão aberto e estreito, com pequenos arbustos cercado por baixas paredes retilíneas de pedras chatas, claras e escuras, e na ramagem abelhas voejam.
Os pombos catam coisas quase invisíveis, arrulham, dançam, trepam, e novamente dançam e se coçam se atacam; abrem asas e transam.
Toda essa atitude certamente é um ritual de amor.
Formiguinhas passeiam, param e se cumprimentam, mas pouco se falam, e seguem como que procurando algum tesouro.
Maracanãs.
Três crianças brincam com seus cães; o velho batuca nas pernas; o casal com filhinho de colo para à sombra e discutem e se ofendem, no olhar agressivo não há sinais de ternura...
Um homem chega e espera desconfiado e impaciente. Mas logo surge um garoto forte saudável e bonito. Eles sorriem, se abraçam, brincam, jogam palitinho e o pequeno deita em seu colo e fecha os olhos ao receber cafuné.
De longe alguém espia, é mulher.
Como saber se o que parece certo é o melhor?
O vento corre em círculo, chega por onde estou, entra e segue sempre da direita para a esquerda. As minúsculas folhas verdes ditam o tom e as adjacentes ramagens respondem num grave mediano e vai ao agudo suave...
E quando o vento fecha o círculo, as minúsculas folhas verdes encerram a toada.
Dir-se-ia o poeta mineiro, uma singela sinfonia.
A dança parece uma quadrilha e a toada são versos declamados entre sussurros e suspiros. Ou talvez lamentos e gemidos... queixas.
Eu os invejo _ os pombos _, liberdade de ser e amar. Trepam livremente; e dançam.
E a árvore me reprime atirando frutos secos em mim.
Ergo a cabeça e por uma fresta daquele vaivém dos galhos vejo a lua branca acinzentada como uma pequena fatia de nuvem perdida.
Eu vi a lua em pleno dia por entre as folhas dos arvoredos...
E é verão.
Mas hoje tem sol, tem sombra e tem vento.
As flores são minúsculas, pérolas azuis e amarelas na relva onde os marimbondos e joaninhas se divertem.
Hoje o dia é de um frescor divino.
O que eu mais posso querer?
Na verdade eu queria mais uma flor, a flor ..., aqui comigo.
Mas o mundo, a natureza, a vida já fora generosa demais para comigo.
O pé de ameixa acomoda as ramas de maracujá e se mostra vaidosa ostentando frutos alheios como fossem enormes brincos verde-brilhantes.
Sinto sede. Em locais públicos não se encontra água nem para gente nem para bichos.
_ Caberia uma lei, penso.
Já sinto frio...
Melhor movimentar-me. Saio.
Ando ao sol.
Na outra praça, muitas crianças, idosos, casais de namorados e traficantes.
O olfato capta erva proibida.
A criança cai, é valente, o pai tira as rodinhas. A mãe briga.
As mães solteiras parecem ser mais felizes.
Namorado de mãe solteira é mais atencioso e demonstra carinho...
Travestis são ousados.
Eu perco a poesia.
O vento cessa e se faz brisa. É quando posso ouvir o zunir das abelhas e o cricrilar selvagem na minha cabeça.
Mas a natureza é generosa e ordena ao maestro que recomece o concerto.
Eu saio.
Dezoito horas, deve ter finda a visita.
Atravesso a rua atento ao perigo. Ando, ando, ando... caminho mergulhado em fantasias.
O mundo é grande mas hoje não tinha lugar pra mim.
Fui para a rua andar;
Caminhei, caminhei,
Nem sequer por um instante estive sozinho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário